To The Bone | Não é glamorizar, é ultrapassar
Não, isto não é apenas uma opinião acerca de um filme qualquer. Desta vez é um post sério sobre um filme sério, cujo conteúdo é igualmente sério e pode ser traumatizante para certas pessoas mais sensíveis. Quando digo traumatizante, não se trata de simplesmente ficar enojado(a) ou ter vontade de virar a cara para o lado eventualmente, mas sim de abater tanto alguém ao ponto de termos um ataque de pânico.
Com todos os avisos feitos na introdução, posso apresentar-vos o mais novo filme da Netflix, "To The Bone". Após o sucesso da série viral, "13 Reasons Why", a empresa decidiu investir num filme auto-biográfico, escrito e dirigido por Marti Noxon, que reconta algumas das suas próprias vivências durante o demorado e doloroso processo pelo qual passou para superar um distúrbio alimentar, a anorexia.
A história tem como protagonista Lily Collins, no papel de Ellen, que é uma jovem de 20 anos que sofre de uma anorexia agressiva. Após vários internamentos dos quais saía mais magra que quando havia entrado, Ellen vai a um médico pouco convencional que a interna, não num hospital, mas numa casa com outros adolescentes cujos problemas são também, os distúrbios alimentares.
Muitos críticos pelo mundo fora preocupam-se com o facto de este filme glamorizar este problema e que este integre o conceito de "Thinspiration", fazendo com que adolescentes a assistir o filme comecem a exercer prática não saudáveis como as que Ellen exercia.
Na minha opinião, este filme não glamoriza de todo os distúrbios alimentares, bem como não glamoriza a depressão que podemos observar com grande destaque no início do filme perante a atitude de Ellen quanto à sua vida. Penso que a intenção inicial de Martin foi bem conseguida. Apesar de toda a negatividade da situação, a mensagem foi bem passada. Para quem sofre deste mal que mata, há sempre volta a dar, o processo não será fácil, no entanto, quando se ultrapassa este pesadelo, há uma vida lá fora para ser vivida! Quem não passa por estes males, após o filme certamente não quererá passar pela situação. Faz com que todos percebamos que, quilogramas não são as únicas que perdemos no processo e que não nos estamos a matar apenas a nós próprios, como a todos aqueles que nos rodeiam e que assistem à possibilidade da nossa morte eminente.
Existe um lado positivo de tudo, especialmente dentro da casa, onde isso é evidenciado. Como disse uma das personagens do filme, "Nós não estamos doentes, pessoas doentes estão no hospital, nós estamos aqui para ultrapassar esta coisa".
Não posso deixar de destacar o incrível desempenho da atriz principal do filme, Lily Collins, que fez uma completa transformação do seu corpo, sem lhe ser pedido, para o papel principal. A atriz emagreceu imenso com o acompanhamento de uma nutricionista e como a própria referiu numa entrevista, para além de ser uma atriz e ter que se adaptar a uma personagem, ela própria teve problemas com a alimentação enquanto adolescente e quis fazer justiça, não só a ela, não só à escritora, mas a toda a gente que passa por isto, sejam mulheres ou homens. Para além disso, a atuação dela foi incrível.
Recomendo a pessoas fortes que assistam de mente aberta, que não se limitem a ser críticos e escrever o que pensam apenas pelo trailler, porque afinal, o que viram foram dois minutos de duas horas.